O Marido Domado e Outras Peças em um Ato reúne cinco comédias que têm apenas um ato escritas entre 1953 e 1961. “O Castigo da Soberba”, de 1953, conta a história do julgamento de uma alma, reivindicada pelo Diabo e defendida por Nossa Senhora. “Um Natal Perfeito”, de 1957, traz um retrato típico das classes abastadas, narrando um conflito familiar acerca da comemoração do Natal: dois irmãos, cujas esposas brigadas não podem conviver no mesmo espaço, desejam passar a ceia de Natal com os pais. Em “O Seguro”, escrito também em 1957, Afonso Gostoso e Benedito precisam vender um seguro de vida para Vicentinho e sua família. Ao longo das várias seduções de Afonso para agradar a mulher do possível cliente, Marieta, e fazê-la convencer o marido a fechar negócio, os agentes de seguro percebem na verdade que é ela quem impede o marido de assinar o contrato. Escrito no ano seguinte, em 1958, “O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna” é centrado em Joaquim Simão, um poeta que leva uma vida extremamente pobre, com mulher e dez filhos. A preguiça é o seu maior defeito, pois ele sempre usa a lógica do menor esforço para fugir de qualquer tipo de trabalho. Já “O Marido Domado”, de 1961, é uma paródia da comédia A Megera Domada de William Shakespeare. Suassuna reverte a história clássica e conta como um marido dominador e violento se torna submisso e medroso, graças à esperteza da esposa.

O Marido Domado e Outras Peças em um Ato é formado por cenas teatrais curtas, que representam e discutem valores da tradição popular nordestina. Como toda obra de arte, o entremeio (ou entremez) ora confirma e ensina tais valores tradicionais, ora os questiona, proporcionando uma maneira lúdica de discutir aspectos éticos, culturais e históricos pertinentes à sociedade brasileira. De quebra, os leitores entram em contato com rimas, versos e imagens de toda uma riquíssima cultura que nasceu e floresceu em meio a uma das paisagens mais agrestes da natureza brasileira.

Ariano Suassuna é mais conhecido por sua famosa peça Auto da Compadecida, que foi adaptada para a televisão e para o cinema. Mas sua obra e sua atuação profissional vão muito além dessa peça. Ele escreveu 15 livros entre romances e poesias e 18 peças de teatro. Desses, vários foram transformados em séries e filmes. Por essa produção tão representativa, em 1989, Ariano foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, e assumiu a cadeira nº 32 no ano seguinte.

Carlos Newton Júnior é poeta, ficcionista e professor do Departamento de Artes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Possui graduação em arquitetura e urbanismo pela UFPE e foi como estudante desse curso, nas aulas de estética, que entrou em contato pela primeira vez com Ariano Suassuna, de quem se tornou amigo e um estudioso de sua obra. É uma das referências teóricas para o estudo de Ariano Suassuna no Brasil. Publicou recentemente os livros Ressurreição: 101 sonetos de amor (2019), Memento mori: os sonetos da morte (2020) e Coração na balança (2021), todos pela Nova Fronteira.